Lá,
quem tiver um pouquinho de paciência não precisa comprar som,
televisão ou outros eletrodomésticos: basta procurar no lixo
da vizinhança que dá para escolher até marca!
E, com um pouco de jeito e tempo, basta improvisar porque
o conserto deve ser pequeno: a qualquer probleminha, jogam
tudo fora e compram novo, que é mais barato.
Não sei até hoje, porque nos EUA se compra uma TV colorida
de 14 polegadas, com controle remoto na faixa de US$ 120.00
e por aqui custa ao redor de R$ 350,00. É essa diferença é
que permite que os prestadores de serviços enfiem a mão no
nosso bolso. E com as alíquotas de importação protegendo os
cartéis nacionais, não tem jeito .
A
tal garantia é um enfeite. Foi o tempo que a Brastemp era
uma Brastemp: agora as lavadoras só duram até validade da
garantia e todos os consertadores dizem que a ‘boa era a sua
máquina antiga". O consumidor deveria por isso, exigir uma
garantia até o ano 2010 para todos os eletrodomésticos: os
automóveis, por exemplo, tiveram que correr atrás da concorrência
e hoje muitos acenam com 50 mil Km de garantia.
Coitado
daquele que tem que fazer uma revisão decente no carro: se
não fizer vários orçamentos, pedir descontos e prazos para
pagar, estará perdido. O último orçamento quer fiz para a
revisão de uma Parati 97 dava para comprar um Fiat 85 que
aqui em casa se usa para ir ao Maracanã sem risco de roubo
do carro, porque o risco de roubarem a gente é diuturno aqui
no Rio, em qualquer sinal luminoso a qualquer hora do dia.
Enquanto isso, a "Guarda Municipal", ao invés de proteger
o povo, já que tem medo dos ladrões, percorrem a cidade para
arrecadar fundos rebocando carros em ruas desertas.
Outro abuso é daqueles que cobram pela casa ou pelo bairro
do freguês. Uma amiga minha, daquelas xepeiras, ligou para
pedir o orçamento de uma dedetização dando o endereço do Leblon,
bairro chique do Rio. Quando estava na casa da sogra, em Jacarepaguá,
pediu o orçamento para o mesmo número de peças e o preço baixou
R$ 20,00. Não teve dúvida: ligou de novo, dizendo que o apartamento
era em Cascadura e conseguiu um desconto adicional de R$ 30,00.
Como o total não era muito alto, o desconto final representava
quase metade do primeiro orçamento.
Neste país, onde infelizmente as escolhas são poucas, deve-se
abrir espaço para que atividades de serviços de reparo, consertos
e manutenção possam ser desenvolvidos a preço compatíveis
com o valor da reposição dos equipamentos .
Se
pararmos para avaliar que o salário mínimo é de parcos R$
0,85 por hora (base 40 horas semanais), não é possível que
tenhamos simplesmente que imitar os gringos e jogar fora ferros
elétricos, liqüidificadores e torradeiras, que já é o que
acontece por conta do que cobram para o conserto. Temos é
que criar potenciais oportunidade de empregos.
O cúmulo da realidade atual é a história que ouvi, ainda nesta
semana, contada por um juiz de direito, numa domingueira regada
a cerveja e água de coco: chamou um bombeiro hidráulico para
um reparo em uma pia eternamente entupida e com vazamento.
Após meia hora de serviço, o bombeiro cobrou R$ 120,00 só
pela mão-de-obra. Interpelado pelo absurdo da taxa horária,
comparada com os R$ 70,00 que cobrava o médico da família
pela hora de consulta, o bombeiro calmamente ponderou.
"Exatamente isso! Meu hobby era mecânica e minha profissão
médico. Porém depois dessa enxurrada de planos de saúde, não
deu mais para viver de consultas médicas. E enquanto não inventarem
planos de bombeiros-mecânicos, vou continuar faturando por
consulta hidráulica, que dá muito mais."
Atualizado
a partir de artigo publicado no Jornal do Brasil -RJ